Os
pratos da minha avó “Abuelita”
Quando eu era criança, aos dez anos fui a casa de
minha avó. Seriam dias encantadores só eu na casa de minha avó. Sem meus irmãos,
sem minha mãe, só nos dois.
Todas as atenções só para mim.
Na casa da minha avó, as coisas estavam sempre no
lugar. Tudo estava em ordem sempre e tudo limpo, não lembro de ver uma xícara
suja.
Mas o que mais
me fascinava era uma cristaleira “móvel” que ela tinha onde guardava as louças
finas, eu podia ver os cristais através de um vidro sempre muito limpo, e nesse
móvel tinha os pratos mais lindos que eu havia visto em meus dez anos de vida,
era uma louça inglesa, e os pratos para mim eram uma obra de arte, com umas
rosas vermelhas e muito lindas, minha avó na hora do almoço me servia a sopa e
como eu lá havia ido a vê-la de tão longe, colocava os pratos finos que eu
adorava, ela dizia que eram para uma grande ocasião especial. E eu tomava a
sopa e quando ia acabando a sopa, começava a sair o desenho no fundo do prato, umas
rosas vermelhas maravilhosas, e qualquer sopa para mim era fantástica nesses pratos.
O que ela servisse para mim era delicioso, já que depois podia ver esses quadros
pintados no fundo e nos bordes, depois de uns dias eu voltava para minha cidade
já em casa eu contava que havia tomado sopa e comido nos pratos finos de minha
avó.
E passaram os anos e os pratos sempre ficaram em minha
memória e na estante da minha avó que só os tirava para grandes ocasiões. Minha
avó ficou velinha e morreu com mais de 90 anos, eu já adulto, um dia fui
visitar minha irmã, e o que vejo na estante da minha irmã...
Os maravilhosos pratos da minha avó. Digo para minha irmã
que me encantavam esses pratos desde que era criança. Minha irmã me diz: são belíssimos,
tem mais de trinta anos. E terminamos de comer. Mais tarde quando eu ia embora,
minha irmã me diz: tenho um presente para ti. E me da uma caixa com os pratos
da minha avó. Eu não podia crer. Disse
para minha irmã que não, que eram dela, mas ela insistiu e me disse: Eu não
sabia que você gostava tanto deles, são teus, e não teve jeito, ela deu para
mim os pratos finos da minha avó...
Levei para minha casa, e eu almoçava e jantava todos
os dias com os pratos finos, colocava uma tolha de mesa bordada à mão que minha
mãe havia feito para as grandes ocasiões, mas para mim todos os dias são uma
grande ocasião, então eu todos os dias almoçava
e jantava com a toalha bordada a mão, e os belíssimos pratos de mais de trinta
anos. E os lindos pratos da minha avó que ela cuidou tanto duraram dois anos na
minha casa sendo usado todos os dias, mais ou menos o que durou toalha bordada .
Por que minha avó guardou tantos anos esses pratos se não era para eu usá-los...
Acaso não era eu uma grande ocasião... Ela me tinha
falado só para as grandes ocasiões e todos os dias ela usou quando eu fui a
visita-la fazia mais de 30 anos. Por isso digo as coisas belas não são para
ficar guardadas em armários de cristal. Os mantos finos não são para ficar em
gavetas e ser usados para natal e ano novo, ou um aniversario, mas para ser usados
todos os dias, já que cada dia é milagre, cada dia é uma grande ocasião. Os pratos
se quebraram, mas a recordação da felicidade que eles me deram está intacto
dentro de mim. Os pratos da minha avó, eu me lembro até
dos detalhes.
Minha Abuelita guardo sempre para mim...
Rolando Toro Acuña